Você trabalha demais.

Temos a ideia errada de pensar que trabalhamos de menos, mas a verdade é que, na história da humanidade, somos uma das gerações que mais trabalha.

Paulo Pilotti Duarte
4 min readOct 9, 2023

Um camponês da Idade Média/Moderna trabalhava em média 6 horas por dia durante metade do ano. Isso era intercalado com festividades religiosas e várias pausas para não sobrecarregar as pessoas responsáveis por manter a produção de alimentos nos castelos e comunidades.

Posteriormente, com a Revolução Industrial, vivenciamos um período altamente desgastante para a humanidade (recomendo a leitura de “O Povo do Abismo” de Jack London), que resultou na morte de uma grande parte da população economicamente ativa da Inglaterra nos anos 1900. Passamos por confrontos entre anarco-sindicalistas que buscavam a redução da jornada de trabalho diária (de 14 horas para 12, depois de 12 para 10, e finalmente de 10 para 8 horas). Além disso, aos poucos e com muita luta e derramamento de sangue, foram estabelecidas regras para que mulheres grávidas não precisassem trabalhar até o momento do parto e para que as crianças pudessem ser, de fato, crianças. Em todas essas revoltas e revoluções, os empresários fizeram de tudo para destruir as lideranças, incluindo assassinatos, sequestros, ameaças e manipulações por parte do Estado. Tudo o que você pode imaginar de um miliciano moderno do Rio de Janeiro já estava presente na Inglaterra dos anos 1900.

Com muito esforço e derramamento de sangue, chegamos a um cenário desafiador de uma jornada de trabalho de 8 horas por dia nas empresas, com 30 dias de férias. Países menos desenvolvidos, como os EUA, ainda não têm isso regulamentado, mas tende a ser uma regra geral.

Atualmente, trabalhamos, pelo menos, 8 horas por dia durante mais de 90% do ano (com sorte, você tira 15 dias de férias). Somos sobrecarregados por e-mails, horas extras, pressões por crescimento pessoal, produtividade e metas de crescimento que muitas vezes só fazem sentido na mente dos CEOs que leem planilhas.

Além disso, somos bombardeados com uma propaganda de mentalidade liberal que afirma que “temos muitos feriados” ou que “temos muitas pausas durante o dia”. Esse tipo de argumento sempre surge de tempos em tempos, especialmente quando o capitalismo enfrenta uma de suas crises cíclicas (1900/1920/1940/1970/2008/2022) e precisa cortar gastos na classe mais pobre para manter os lucros dos bilionários em crescimento, como mencionei anteriormente.

Ainda veremos muito disso nos próximos 2 ou 3 anos. Surgirão mais figuras como Milei, Bolsonaro, Paulo Guedes e tantos outros liberais da Faria Lima, Wall Street e 9 de Julho. A ideia é, de fato, que a classe burguesa se una em torno desse projeto de poder, que se baseia em intensificar a força de trabalho através do medo. Isso ocorre à medida que enfrentamos fenômenos que desafiam a lógica do capitalismo no seu núcleo (empresas dos EUA e da UE) que se expandem rapidamente pelos países emergentes e novas economias. Primeiro, tivemos o trabalho remoto como moda (e as empresas que forçaram o trabalho híbrido e o trabalho presencial como regra após o arrefecimento da COVID-19 acabaram perdendo mão de obra qualificada). Depois, com a ideia de que as pessoas só devem fazer o que são pagas para fazer (quiet quitting), as empresas enfrentaram o problema das pessoas que não trabalhavam além do seu expediente contratual (9/5 nos EUA, 9/18 no Brasil e na maioria do mundo). Para combater esse “problema”, muitas empresas criaram hierarquias de cargos, dando a todos algum grau de gerência, mesmo que não houvesse subordinados para gerenciar. Isso resultou na nova tendência de evitar ou recusar promoções para cargos de gerência, a fim de evitar trabalhar sem horários definidos, nos fins de semana e feriados, e sem a perspectiva de férias. Em resumo, a Geração Z, principalmente, decidiu que é melhor viver para desfrutar do salário do que viver para trabalhar.

É claro que isso causou turbulências nas empresas, uma vez que as políticas de trabalho são criadas pelos capitalistas para beneficiar os próprios capitalistas, muitas vezes com a conivência do Estado, que é essencialmente burguês.

Portanto, é importante refletir sobre o quanto é realmente necessário atender às demandas quando seu chefe ou um colega de trabalho mais insensível pede para você ficar até mais tarde, começar o dia mais cedo ou realizar tarefas urgentes na sexta-feira às 18 horas.

“From 1400 to the early 1650, mean height reached 173–174 cm. The early years of the 1600s were ‘unusually healthy’, and the paper notes that the introduction of poor laws may have contributed to better health for poorer sections of society. Heights then fell after 1650, falling to around 169 cm in the late 1600s, a decline that continued until the early 1800s, says the study. It notes that previous research suggests mortality rates had declined with life expectancy for those born between 1650–1750 being 35 years as compared with 40 years in the late 1500s. The nature of work after 1650 had changed with manual labour putting more of a toll on the body. The authors note that during the Industrial Revolution, the demands on workers were much greater than in medieval times. The increasing number of working days coupled with poorer working conditions could be why average height went down even though wages grew after 1650. The decline in heights could also be associated with increasing inequalities in society, suggests the paper.” (2017, “Highs and lows of an Englishman’s average height over 2000 years”)

--

--

Paulo Pilotti Duarte
Paulo Pilotti Duarte

No responses yet