Vamos falar sobre a eleição de Porto Alegre?
Não tinha como o Melo perder essa eleição, ele é o candidato da burguesia local. Ela ia ganhar, nem que fosse na base da força, como foi em 2020. A discrepância de doações dele pra qualquer outro candidato é um reflexo da farsa que é a democracia. O problema é que a gente, sociedade civil, acredita que a democracia vai resolver alguma coisa. Não vai. Seja o PT seja o PL, a democracia serve, essencialmente, pra manter os mesmos nos poder eternamente. Não é por nada que nos EUA, no Brasil e em qualquer outro local que ela seja o principal meio político, existem feudos de famílias que vivem, basicamente, de política.
Para além disso, essa eleição é um fenômeno pra esquerda conciliadora. 40% dos votos em SP e em POA, com 1/10 do dinheiro, é um grande feito (que pouca gente parece entender). O problema é que, ao que parece, esse é o teto da conciliação de classes dentro do sistema. Talvez se o PT fosse dos trabalhadores (e focasse em coisas que influenciam no dia-a-dia do trabalhador, como escala 6x1, salários, direitos, educação técnica e acesso a empregos) o partido tivesse um desempenho melhor. Talvez. Não tem como saber, mas eu acho que a conciliação que criou a “onda rosa” do início dos anos 2000 chegou ao seu final. E é muito interessante que ainda tem um público grande, realmente incrível.
Finalmente, eu acho que o Melo é um fenômeno eleitoral que deveria ser estudado. De três pleitos, ele se contradisse nos três. Ele nunca teve um plano de governo, uma ideologia definida (ele saiu de centro-esquerda para direita em 8 anos) ou uma mínima capacidade gerencial. Ele apenas age como um mafioso cortando o acesso de outros quadros da direita -> centro enquanto gera fake news contra o próprio centro e a centro-esquerda.
Nesses eleições pós-enchente, eu realmente pensei que, pelo menos, as incorporadoras, a RBS e o Instituto Floresta precisariam de outro nome depois, mas nem isso precisou, ele varreu a cidade num misto de medo do comunismo (muito voto foi nisso, ainda) e resistência ao nome da Maria do Rosário, como ele tinha feito contra a Manuela, 4 anos antes.
Ainda, é bom lembrar que esse Melo perdeu uma eleição em 2016 (depois de ter sido vice-prefeito por 4 anos) pelo mesmo placar que ganou esse ano (quando ele ainda se dizia de centro/centro-esquerda).
Não tem como negar, ogrande prócer político do RS e de Porto Alegre, hoje, é o Melo. Ele realmente sabe andar pelos setores da política local, dialoga com a base burguesa da cidade e consegue tolher o acesso de todos os quadros da direita ao pleito.
Temos que dar esse crédito pra ele também. Ele sabe como fazer política, e isso não tem nada a ver com o chapéu de palha.
