Hobsbawn e os lu(d)distas

Paulo Pilotti Duarte
2 min readJul 21, 2023

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Criador: JeffreyMoustache

Em 1952 Eric Hobsbawn, provavelmente o historiador mais conhecido do ocidente, escreveu sobre os ludistas. O ludismo, até então (e até hoje) era conhecido por ser um movimento de trabalhadores “contra a tecnologia”, como se isso fosse essencialmente mal, que tinha como objetivo impedir o avanço do mundo.

Claro que, como tudo, a maior parte disso era uma bela propaganda capitalista contra os trabalhadores. O que o Ludismo queria era manter os direitos e a manutenção das já parcas condições de trabalho ma Inglaterra dos anos 1800. Mais claro ainda é que esse movimento virou um símbolo antissocialismo para muito, principalmente com o Aldo Rebelo, décadas depois, ajudando a difundir a ideia anticiência e anti-tecnologia. Mas, voltando ao ensaio, o grande cerne da discussão que EH nos dá é exatamente uma visão para além dessa ideia (errada) de que o Ludismo era um movimento que tinha como objetivo maior destruir a tecnologia e impedir o avanço.

Mas porque falar disso, de novo e de novo? Com o comercial da Elis Regina cantando “Como Nossos Pais” para vender uma Kombi elétrica, muitos dos que falaram mal da escolha de reviver a figura de uma cantora/artista que sempre foi contra vender-se ao patronato e sempre foi socialmente ativa, acabaram se vendo acusados de “neoludistas” por aqueles que, embasbacados com holografias, geradores de texto e deep fakes, acham que isso é um passo em direção ao progresso, sem ver que isso é um açoite à imagem do artista e da pessoa. Se a Elis, a própria, tivesse aceitado e acatado o contrato, nada a falar. Cada um faz o que quer, inclusive vender uma Kombi elétrica inflacionada. Mas não teve nada disso. Foi um movimento da VW, notória apoiadora da ditadura militar, e da sua filha, que em um momento apenas, açoitaram dois artistas contrários ao patronado: Belchior, letrista e Elis, interprete.

Quem não viu ainda o problema disso tudo, está embasbacado com o progresso inexorável do capitalismo rumo à destruição, tal qual a sociedade inglesa em 1870 que ruiu em 1900.

Vai ler o ensaio, aliás (em inglês): https://libcom.org/article/machine-breakers-eric-hobsbawm

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