Chile e Pinochet
Este post não é de minha autoria. Pesquei na internet faz MUITO tempo mesmo e perdi o autor. Se alguém que ler esse texto souber que o fez, avise-me.
Aprovado!
Carlos ainda lembrava a alegria da família ao receber a notícia. A mãe fez questão de contar para cada conhecido que encontrava. O pai gritava com mais euforia no mercado onde vendia verduras desde que recebeu a notícia. Tudo aquilo parecia tão distante naquela cela escura e fria.
Era setembro ainda? Não, já deve ser outubro.
Os dias não poderiam ser contados naquele lugar. Tudo parecia uma única e longa noite de pesadelos. O contato com a paz só vinha das badaladas do sino de alguma igreja próxima.
Foi tudo tão rápido…
Carlos chegou na cidade para cursar Direito em uma das melhores universidades do país. Sua origem humilde o fez se empolgar com o novo governo. Finalmente uma pátria mais justa, pensava ao participar das manifestações. A entrada em uma organização política foi quase natural. Não se arrependia. Nem quando desmaiava ao ter sua cabeça mergulhada por minutos naquela água imunda e gelada.
Nas cartas, contava aos pais sobre as mudanças que via na capital e o pai respondia com aflição: — Tome cuidado Carlitos.
As horas já não existiam. O tempo era contado pelos gritos de dor. Não sabia quanto tempo estava amarrado naquela cadeira. Já não sentia as pernas exceto quando alguma unha do pé lhe era arrancada com alicate. A dor subia como um choque elétrico, rasgando cada nervo. Mamãe deve estar desesperada. Será que ela sabe que estou vivo? Papai deve estar acalmando ela daquele jeito que só ele consegue, mesmo gritando por dentro. Queria morrer logo. Seria melhor. Trechos de canções do Victor Jara vinham na sua mente. Primeiro LP comprado, mas sem vitrola. Dona Magda, dona da pensão, não gostava daquelas músicas. Eram poucos os momentos que podia ouvir as canções que aprendeu nas manifestações e assobiava de noite. A porta da cela se abriu. Carlos tremeu. Seu corpo nu estava tão machucado e frágil Que faltavam forças para abrir os olhos inchados. O sabor metálico do sangue já deixará de incomodar de tão comum.
A única coisa que ainda angustiava eram os gritos infantis. Como levariam uma criança a um lugar desses?!
Os gritos não eram de alguma brincadeira, eram de pavor.
Dois militares entraram na cela e arrastaram o corpo desfigurado de Carlos. O jogaram para trás e puxavam pelos pés, descendo as escadas. As batidas o fizeram desmaiar. Acordou com o calor da urina que jogavam em sua cabeça. Ouvia risadas sádicas.
Uma voz grossa disse: — Esse já não serve para nada. Podem encerrar.
Um disparo seco libertou Carlos. Já não haveria sofrimento.